A maternidade é uma jornada transformadora, mas não precisa ser solitária ou idealizada.
Quando falamos em maternidade, é comum que o foco se volte para o bebê: o desenvolvimento, as fases, as conquistas. Mas e a mãe? Quem olha para ela?
Muitas vezes, a maternidade vem carregada de expectativas, cobranças e um silêncio sobre o que realmente significa atravessar esse processo. E, nesse silêncio, as mães, na maioria das vezes, acabam se sentindo invisíveis.
Saúde mental materna importa
A maternidade não é apenas um momento de amor incondicional ou realização plena, como muitas vezes é retratada pela sociedade. É também um período de transição, marcado por mudanças profundas no corpo, na mente e na vida social.
É preciso espaço para dizer: nem sempre é fácil. Isso não diminui o amor pelo filho, mas reforça a necessidade de cuidar também da mãe.
O que é Saúde mental materna?
Saúde mental materna é mais do que evitar transtornos como depressão pós-parto ou ansiedade. Trata-se de olhar para a mulher como um todo: suas emoções, seus limites, suas experiências.
Cuidar dessa saúde é essencial porque uma mãe bem acolhida e apoiada consegue atravessar as demandas da maternidade de forma mais leve, conectando-se com seu bebê sem se perder de si mesma.
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Por que falamos pouco sobre isso?
A romantização da maternidade ainda silencia muitas mães. O medo de serem julgadas como “fracas” ou “ingratas” faz com que escondam sentimentos de exaustão, tristeza ou sobrecarga.
Somado a isso, a falta de apoio estrutural e emocional coloca um peso imenso sobre elas. Não é que as mães não deem conta. É que ninguém deveria dar conta de tudo sozinha.
Desafios reais da maternidade
Cansaço: As noites mal dormidas e as demandas constantes podem drenar a energia, tanto física quanto emocional.
Pressão por perfeição: A cobrança por ser uma “mãe ideal” — sempre paciente, amorosa e eficiente — é irreal e cruel.
Isolamento: Muitas mães relatam se sentirem sozinhas, mesmo quando cercadas por pessoas. A falta de compreensão ou empatia do entorno contribui para essa solidão.
Transformação da identidade: A mulher que se torna mãe precisa conciliar a nova identidade com quem ela era antes. Esse processo pode gerar conflitos internos.
Como cuidar da saúde mental materna?
Permitir-se sentir: Aceitar que nem todos os dias serão fáceis é libertador. Maternidade não é sobre perfeição, mas sobre presença, dentro do possível.
Falar sobre as dores: Compartilhar sentimentos com outras mães, amigas ou um profissional de saúde pode ajudar a aliviar a carga emocional.
Criar uma rede de apoio: Ter com quem contar, seja para dividir as tarefas ou falar de suas experiências, faz toda a diferença.
Priorizar pequenas pausas: O autocuidado não precisa ser grandioso. Às vezes, é um café quente ou um banho sem pressa. Respeite o que cabe na sua rotina.
Buscar ajuda profissional quando necessário: Psicoterapia e, em alguns casos, acompanhamento médico, são aliados valiosos para atravessar períodos mais difíceis.
Cuidar da saúde mental materna é reconhecer que a mulher por trás da mãe precisa ser vista e acolhida. É abrir espaço para que cada mãe possa dizer o que sente, sem medo de julgamentos.
A maternidade é uma jornada transformadora, mas não precisa ser solitária ou idealizada.
* Paula de Oliveira Alves é psicóloga graduada pela PUC-Minas Especializada em Psicologia Perinatal e da Parentalidade pelo Instituto MaterOnline; em Intervenção psicossocial pelo Centro Universitário UMA; Especialização em Psicologia Hospitalar e da Saúde pela FAMART. Psicóloga clínica com gestantes e puérperas. Docente no curso de Doulas Comunitárias, na Prefeitura de Belo Horizonte. (CRP04/31469)
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