

Consumismo na infância
Descubra por que repensar o consumismo na infância é essencial para criar vínculos, valores e experiências mais significativas. Leia no Blog!
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Menos coisas, mais histórias: por que precisamos falar sobre o consumismo na infância
Vivemos em uma sociedade em que o consumo começa cada vez mais cedo. Crianças pequenas, ainda em fase de alfabetização, já reconhecem marcas, pedem brinquedos vistos em propagandas e se sentem frustradas diante da ausência de determinados produtos.
Em meio a prateleiras coloridas, telas repletas de estímulos e uma cultura que associa afeto à oferta de presentes, é preciso fazer uma pausa: o que, de fato, estamos oferecendo às crianças?
A infância é um período de formação de valores, hábitos e vínculos. Quando ela é atravessada por um excesso de objetos, mas escassez de tempo, presença e escuta, algo se desequilibra.
O consumo deixa de ser uma escolha e passa a ser uma tentativa constante de preenchimento. De um desejo que nunca se satisfaz. De uma busca que nunca termina.
Dados da pesquisa "Retratos da Sociedade – Crianças e Consumo", realizada pelo Instituto Alana e pelo Datafolha, mostram que 76% das crianças entre 3 e 12 anos pedem aos pais produtos que veem em comerciais.
E 80% dos pais afirmam que sentem dificuldade em dizer “não” diante desses pedidos.
Essa dificuldade tem raízes afetivas: muitos adultos associam a entrega de bens materiais ao cuidado e à presença. Em contextos de ausência, cansaço ou culpa, o consumo acaba ocupando o lugar que deveria ser da convivência.
O problema não está em ter brinquedos, roupas bonitas ou novidades de vez em quando. O perigo é quando o ter se torna mais importante do que o ser. Quando a criança aprende que felicidade está ligada a algo que se compra. Ou que o valor das coisas está acima do valor das pessoas e dos momentos vividos.
O consumismo infantil não afeta apenas o bolso — ele impacta a formação emocional, a autoestima e a forma como a criança se relaciona com o mundo.
Nesse contexto que livros infantis com mensagens simbólicas e sensíveis têm um papel potente. Em Flint, o pássaro que tinha muitas coisas, de Geovanna Tominaga, o protagonista é um passarinho que adora colecionar objetos.
Mas, apesar de ter um ninho cheio de “coisas”, Flint sente um vazio que nada preenche.
A história acompanha sua jornada até perceber que o que realmente importa não cabe no bico: são os encontros, as trocas e os voos compartilhados.
Com leveza e poesia, a narrativa convida crianças e adultos a refletirem sobre a diferença entre acúmulo e afeto. A boa notícia é que existem muitas formas de educar para um consumo mais consciente e afetuoso desde cedo.
A primeira delas é oferecer tempo e atenção:
Crianças que são escutadas, acolhidas e estimuladas a brincar de forma criativa aprendem a valorizar o que sentem e criam — e não apenas o que possuem.
Outra estratégia importante é incluir as crianças nas conversas sobre escolhas e prioridades:
Falar sobre dinheiro, sobre o porquê de não comprar algo naquele momento, sobre a diferença entre desejo e necessidade, são formas de construir autonomia e senso crítico. Quando a criança entende o processo por trás da decisão, ela se sente parte e respeitada.
É também fundamental criar memórias que não dependam de compras: Piqueniques no parque, tardes de brincadeiras, histórias contadas, visitas a museus, cozinharem juntos, passeios de bicicleta. Experiências como essas fortalecem os vínculos e ficam guardadas no lugar mais importante: dentro da criança.
Além disso, o incentivo à doação de brinquedos e roupas em bom estado:
Pode ser uma oportunidade para desenvolver empatia e desapego. Mostrar que aquilo que já foi importante para ela pode ser útil e querido por outra criança é um gesto de solidariedade e consciência social.
A publicidade dirigida ao público infantil também merece atenção. O Brasil é um dos poucos países em que esse tipo de propaganda é proibido, de acordo com a Resolução 163 do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente).
No entanto, na prática, as marcas continuam criando estratégias para atingir esse público nas redes sociais, em jogos, canais de YouTube e até em escolas. É papel dos adultos mediar esse contato e ensinar as crianças a lerem criticamente as mensagens que recebem.
Falar sobre consumismo infantil é, na verdade, falar sobre o mundo que queremos construir. Um mundo em que as crianças sejam reconhecidas não como pequenas consumidoras, mas como seres em formação.
Um mundo em que o brincar não dependa de um brinquedo novo. Em que o amor não venha embrulhado em plástico. Em que o valor de uma infância seja medido em risos, descobertas e abraços — e não em sacolas.
*Geovanna Tominaga é jornalista e escritora, educadora parental, especialista em Neurociência, Educação e DesenvolvimentoInfantil. Estudante de Psicopedagogia e mãe do Gabriel.
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Eu sou Geovanna Tominaga, jornalista, educadora parental, especialista em neurociência, educação e desenvolvimento infantil. Sou estudante de psicopedagogia e mãe do Gabriel.
Apaixonada por comunicação, criei o "Conversas Maternas" pra compartilhar dicas e informações sobre maternidade e desenvolvimento infantil na Primeira Infância para uma parentalidade mais consciente.
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