Como formar um leitor literário?
- Fernanda Paschoal
- 9 de jun.
- 3 min de leitura

O Rio de Janeiro recebeu, neste ano, o título de Capital Mundial do Livro pela UNESCO. É a primeira vez que uma cidade de língua portuguesa conquista esse reconhecimento.
Por aqui, tudo parece respirar leitura: temos Bienal do Livro, projetos espalhados pelos bairros, escolas envolvidas...
É um cenário que convida ao encantamento com os livros.
Mas, ao mesmo tempo, os números trazem um alerta! A pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” mostrou que o número de leitores no país tem diminuído, especialmente entre os mais jovens. (leia a pesquisa completa)
O aumento do tempo de tela, o cansaço das rotinas e a falta de acesso a experiências culturais têm impactado diretamente a formação de leitores.
E aí vem a pergunta: como despertar o gosto pela leitura nas crianças hoje? Como formar leitores literários em um mundo tão acelerado?
"Formar leitores é mais do que oferecer livros"
Como formar um leitor literário?
Sou professora da rede pública do Rio há mais de quinze anos e, ao longo desse tempo, tenho me dedicado a projetos voltados à formação de leitores. Uma coisa que aprendi é que, por mais essencial que seja garantir o acesso ao livro, isso não basta.
O livro precisa significar algo para a criança. Precisa emocionar, provocar, fazer sentido.
O poeta Manoel de Barros dizia que a importância de uma coisa deve ser medida pelo encantamento que ela provoca. É exatamente isso que vejo quando uma criança se encontra, de verdade, com uma história: aquele brilho no olhar, a pergunta curiosa, a vontade de continuar lendo. É esse encontro que precisamos cultivar.
Leitura é encontro, troca e construção

Ler vai muito além da decodificação. A leitura, especialmente a literária, exige contexto, vivência, mundo.
E isso é ainda mais verdadeiro quando falamos de crianças. Para compreender o que leem, elas precisam conectar aquilo com o que já viveram, com o que sentem, com o que conhecem.
Paulo Freire já dizia que a leitura do mundo vem antes da leitura da palavra. Ou seja, precisamos ajudar as crianças a entender o mundo ao seu redor para que possam se conectar com os livros. E isso se faz com escuta, presença e repertório.
A arte como caminho para formar leitores
A literatura é uma arte. E como toda forma de arte, precisa ser experimentada. Não dá para formar leitores sem considerar o quanto o contato com outras expressões artísticas — como o teatro, a música, o cinema, a dança — contribui para esse processo.
A arte amplia a visão de mundo, desperta empatia, constrói identidade. Ela ajuda a criança a se enxergar no texto, a se emocionar com o outro, a imaginar possibilidades. Quando um livro chega acompanhado de experiências sensíveis, ele ganha vida.
Ler, viver e se encantar
Formar leitores é um trabalho delicado. É feito de pequenos gestos:
de leituras compartilhadas;
de conversas depois das histórias;
de visitas à biblioteca;
de idas a feiras literárias;
de ouvir histórias antes de dormir.
É nesses momentos que o vínculo com o livro se fortalece. É por isso que, ao pensar na formação da criança leitora, a gente precisa ir além do conteúdo. É preciso pensar em como tornar a leitura algo prazeroso, cotidiano, cheio de sentido.
No fim das contas, formar leitores é ler e viver junto. É permitir que o livro faça parte da vida da criança, não como uma obrigação, mas como um espaço de descoberta, afeto e imaginação.
*Fernanda Paschoal é professora, na rede municipal do Rio de Janeiro, especialista em formação leitora, tendo recebido diversos prêmios sobre suas práticas inovadoras. Formada em Comunicação Social - jornalismo e Letras – Português e literatura. Faz palestras sobre alfabetização, formação leitora, relações étnicas raciais e projetos. Atualmente está escrevendo o livro: Ler, experimentar, escrever e encantar - Para formação de leitores literários.
Texto muito pertinente, Fernanda. Acompanho o seu trabalho e sou fã. Por aqui, invisto na leitura de entretenimento, com bate papo após a leitura e "link" para outras leituras legais.