Meu filho foi um viciado. Sou da geração 80 e, por isso, filha da televisão. Uma das memórias mais acalentadoras que tenho da minha infância, é de passar manhãs e tardes aconchegada no colinho da minha mãe, assistindo a desenhos animados na tv. Sonhava em poder fazer o mesmo quando tivesse o meu filhote.
Gabriel veio e mudou toda a minha grade de programação. Dos noticiários, novelas e filmes, passamos aos canais de cartoons 24 horas. Era gostoso ter meu bebê nos braços e me distrair com um mundo de fantasias e cores junto dele. Só não sabia o quanto estava prejudicando meu filho, deixando o controle remoto ao seu alcance.
A televisão sempre foi uma companheira. Minha família amava se reunir na sala pra assistir aos filmes e programas de auditório juntos. Quando saí de casa pra morar sozinha, deixava a tv ligada o dia todo pra não me sentir tão solitária. Ouvir aquelas vozes familiares me fazia sentir mais perto de casa.
Tempo de Tela: entenda
Nunca pensei que as telas seriam um problema na minha maternagem. Então veio a pandemia, e com ela a necessidade de mais suporte, mais entretenimento e quase nenhuma ajuda em casa. Home office.
Qual família não se sujeitou ao maravilhoso serviço das babás eletrônicas, as tvs, tablets e celulares? O maior dilema vivido pelos pais durante o isolamento: mais culpa x mais trabalho.
Por algum tempo, foi assim. Rodamos todos os pratos de casa na tentativa de dar conta de tudo. Os médicos especialistas e a Sociedade Brasileira de Pediatria recomendam zero telas até os 2 anos de idade. Alguém conseguiu? Alguns amigos acham que não tem problema um "videozinho" enquanto você come, trabalha ou toma banho. Mas coração de pai e mão não se enganam. O tempo foi passando e nós fomos percebendo um comportamento diferente no nosso pequeno.
Toda vez que tentávamos tirar o celular, ou desligar a televisão, era uma crise de choro fora do comum. Foi então que tomamos uma decisão radical: desconectar nosso filho de TODOS os eletrônicos. Nunca imaginei que fosse dar certo.
Tempo de Tela: o que fazer?
A ideia era fazer uma retirada gradativa, mas o corte acabou sendo radical. Fomos passar um fim de semana numa fazenda e quando voltamos escondemos o controle remoto, os tablets, retiramos as pilhas dos eletrônicos e ele nem sentiu falta. Não estranhou a grande tela preta na sala e nunca mais chorou pelo controle remoto. No lugar, apresentamos a ele os jogos educativos, aumentamos as brincadeiras, as idas ao parquinho, o repertório musical e a cotação de histórias. Brincar é coisa séria mesmo! Dá trabalho e cansa.
Mas vale a pena ver que faz diferença sim. Tem sim problema deixar o desenvolvimento do nossos filhos ao cargo de objetos hiper-estimulantes que não fazem nada de bom por eles, apenas vicia. Quando uma criança está sob o efeito das telas, as cores e luzes ativam o sistema de recompensa no pequeno cérebro ainda em formação, assim como a droga faz.
Deu pra entender o estrago que isso pode causar? Estamos completando quatro meses sem telas por aqui e seguimos felizes e com laços ainda mais fortes.
*Geovanna Tominagaé jornalista, educadora parental, especialista em Neurociência, Educação e Desenvolvimento Infantil. Graduanda de Psicologia e mãe do Gabriel. É fundadora do Conversas Maternas.
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