
A pressa e o imediatismo tomam conta da vida contemporânea, e acelerar os processos tem sido algo cada vez mais comum. Tudo parece estar ao alcance em um toque. Os aplicativos surgem para não se “perder tempo” cozinhando, na fila do banco ou esperando um transporte. Uma graduação não é suficiente para o fim da faculdade, é preciso sair com um mestrado, doutorado, empregado e sendo bem sucedido aos trinta e poucos anos. Viajar para ver a família ou amigos, pode ser substituído por vídeo chamadas curtas, pois é muito tempo que se “perde” na estrada até chegar ao destino. As notícias se atualizam a cada minuto ou seria a cada segundo? Bem, como ficam os bebês e as crianças nesse atropelamento de processos e nessa vida acelerada?
TECNOLOGIA E INFÂNCIA
Eles sofrem. São induzidos, diariamente, ao máximo de “anestésicos” para não “perturbarem” os adultos exaustos. Com isso entram em ação os vídeos hipnotizantes e repetitivos para que eles “consigam” dormir, almoçar, jantar...Para que sejam mais “comportados”, menos crianças e que cresçam rápido para não “incomodarem” tanto.
Diante disso, forma-se uma bola de neve da correria para chegar à vida adulta e todos entram em um labirinto. A grande questão que fica é: Não temos como voltar no tempo e ignorar como o mundo se encontra hoje, pois alguns “progressos” são interessantes, importantes e irreversíveis. Como, então, diante dessa engrenagem, cuidamos para que os direitos de viver a infância não sejam danificados a ponto de causar consequências drásticas para os seres humanos?
TODA CRIANÇA MERECE SER CRIANÇA
Todos os dias nascem muitos bebês que chegam para renovar e transformar o mundo. Mas esse looping da pressa na vida das famílias que recebem esses seres, a sobrecarga das mães e o despreparo das escolas para lidarem com esse turbilhão, fazem a manutenção da fase mais decisiva do ser humano, a infância, se perder no caos.
Então, profissionais especializados na infância surgem com o intuito de reduzir esses danos, ufa! São eles terapeutas, pediatras, nutricionistas, psicomotricistas, educadores... Todos em busca de um caminho possível e saudável para a criança ser respeitada. Mas ainda assim muitas coisas ficam só na teoria, a criança não pode ser só criança, tudo parece ter que ter uma explicação, não basta ser... Mas e agora? Como encontrar a saída?

ARTE NA INFÂNCIA
Pois bem, A ARTE na primeira infância tem esse poder. Ela desenvolve exatamente essa capacidade de simplesmente ser dos bebês e crianças. Cantar, dançar, tocar um instrumento, se transformar em um personagem, criar um cenário, vestir um figurino, todas essas maravilhas possibilitam que eles se comuniquem e sejam compreendidos na sua mais profunda essência. Através da ludicidade poética e sutil, ela dá suporte para a criança sonhar, essa que é uma das preciosidades da infância e o que faz a criança ser criança e se expressar como tal.
Ao ter contato com a Música, o Teatro, as Artes Visuais, o Cinema, a criatividade se aguça e o que está na mente e no coração deles, floresce...Eles só precisam de um olhar cuidadoso, uma escuta afiada e um faro sensível de um adulto consciente do seu papel para contribuir para o desenvolvimento natural e espontâneo acontecer. A Arte entra, inclusive, na contemporaneidade, com uma potente força terapêutica e como um suporte respeitoso no processo dos bebês e crianças. Segundo Nietzsche, o processo artístico é fisiológico e absolutamente determinado e necessário, ou seja, é natural dos seres, é orgânico, é inato. Cuidemos da infância.
*Julia Ludolf é arte educadora, formada em Licenciatura em Teatro e Pós- graduada em Música. Hoje, Julia estuda Arte-Terapia e Terapia do som, conhecida como "Sound Healing". Também é contadora de histórias, professora de Musicalização e teatro para a primeira infância.
Comments