Quando iniciamos um tratamento de intervenção precoce, dentro dele elegemos objetivos de competências sociais para serem desenvolvidos juntamente com as outras esferas do desenvolvimento.
Em um trecho de um dos meus textos que relatei aqui na coluna, falei sobre a importância da escola sendo o principal espaço de exploração de todas as habilidades inclusive as sociais.
O que são habilidades sociais?
As habilidades sociais e emocionais estão relacionadas aos comportamentos apresentados pelo indivíduo em situações interpessoais possibilitando a interação entre duas ou mais pessoas, de forma dinâmica e alternada.
Procura ressaltar a variedade de soluções adaptativas, empregadas em diferentes contextos e situações, que permitem à criança desenvolver-se socialmente. O foco são os recursos que a criança utiliza para lidar com esse desafio, não se tratando apenas de aptidões.
O autismo é um transtorno que afeta as principais áreas do desenvolvimento, inclusive interação social. As manifestações dessas dificuldades poderão variar de acordo com o nível de desenvolvimento e sua idade cronológica, entre outros fatores.
Quanto maior o comprometimento cognitivo, maior a tendência a se isolar e a não se comunicar. Por outro lado, a ideia de que a criança com autismo não demonstra afeto inquestionavelmente, não é verdade. Há diversas evidências sobre a capacidade da criança com autismo, em desenvolver relações afetivas e de responder à interação social.
Os comprometimentos que parecem ser substanciais são, de fato, os da habilidade de atenção compartilhada, especialmente a iniciativa para buscar e manter a interação, de forma recíproca e espontânea.
Teoria da mente, entenda!
Essa capacidade para compreender, explicar e compreender o comportamento humano não observáveis, tão usual nas interações sociais, é chamado de Teoria da Mente, nascida da psicologia cognitiva e que se caracteriza por um sistema de inferências que permite adivinhar o comportamento dos outros.
Devido a esse comprometimento, o estímulo natural a essas crianças, deve ser oportunizado, por exemplo, pela inclusão escolar, o mais cedo possível, possibilitando a ampliação do repertório de habilidades sociais e de aceitação pelos pares.
Desse modo, o isolamento constante pode ser evitado, especialmente nos anos pré-escolares.
Podemos destacar objetivos como por exemplo do modelo Denver de intervenção precoce (ESDM) estabelecido pela equipe, junto com os de habilidades sociais, após uma avaliação criteriosa utilizando instrumentos fidedignos.
Posteriormente os mesmos se tornam metas a serem alcançadas na escola, sob mediação com seus pares da mesma idade.
Tipos de interação social
Existem dois tipos de relacionamento que toda criança precisa vivenciar: o vertical e o horizontal. O relacionamento vertical ocorre entre a criança e alguém com maior poder social e conhecimento como: pais, irmãos mais velhos, professores, proporcionando, assim, segurança e proteção.
O horizontal caracteriza-se pela igualdade e reciprocidade, uma vez que ocorre entre companheiros da mesma idade e, por isso, permite o desenvolvimento de aspectos sociais, somente experienciados nessa relação, como a cooperação, a competição e a intimidade.
A capacidade simbólica é a habilidade que liga todos esses processos e tem sua origem nas experiências de interação entre a criança e seus cuidadores, principalmente durante os "jogos sociais".
Assim como, uma criança interage com um colega cognitivamente mais "habilidoso", ela pode demonstrar habilidades superiores do que poderia fazer, se estivesse sozinha.
Da mesma maneira, crianças com desenvolvimento típico também se beneficiam dessa relação, na medida em que têm a possibilidade de conviver e aprender com as diferenças.
Diversidade e Inclusão
Acredita-se que as consequências dessa experiência para as crianças com desenvolvimento típico vão muito além da redução de preconceitos. A consciência e o respeito pelo diferente não somente são instâncias do desenvolvimento, mas também do cognitivo.
Isso porque a diversidade, em contraposição ao "padrão", amplia a capacidade simbólica, uma vez que essa experiência transforma a realidade, possibilitando diferentes parâmetros que a criança experimenta sobre o que significa "ser criança".
Assim, conclui-se que o desenvolvimento da habilidade das crianças com autismo para se engajar em interações com pares depende das características individuais da própria criança, desta forma se faz imprescindível objetivos claros de protocolos fidedignos, sobretudo, a oportunidade de poder conviver, o mais cedo possível, em espaços que permitam o desenvolvimento dessas interações, como a escola.
Experiências precoces aumentam o engajamento em jogos/brincadeiras nas idades de 1 a 5 anos e em outros períodos pré-escolares,
* Carlayne Carvalho é Psicopedagoga e Neuropsicopedagoga, Especialista em Desenvolvimento Infantil e Intervenção Precoce, Terapeuta Certificada ESDM pelo Mind Institute UC/Davis
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