O autismo é um transtorno neurológico, ainda sem causa definida. De acordo com a última pesquisa publicada(03/2023) pelo CDC (Centro de Controle de Prevenção e Doenças), do governo dos EUA, essa condição atinge 01 em cada 36 pessoas, no país.
As áreas mais afetadas são da comunicação, interação social, de comportamento e sensorial.
Muito se fala sobre o Transtorno do Espectro do Autismo e, por esse motivo, vamos falar um pouco sobre os mitos e verdade que cercam esse tema tão importante. Afinal cada criança com autismo é diferente. Vamos lá:
Existe uma causa específica para o autismo
Mito. Não há uma causa específica, porém sabemos que a causa do autismo é
multifatorial. Diversas hipóteses apontam para uma combinação de influências
genéticas, hereditárias e de contextos ambientais.
O autismo tem cura
Mito. Por se tratar de um transtorno neurológico, quem está no espectro se
manterá nele por toda vida. Isso não quer dizer que irá conviver com os
principais sintomas que o levaram ao diagnóstico. Por isso, a importância da
intervenção multidisciplinar precoce. Os profissionais da fonoaudiologia,
terapia ocupacional e psicologia podem ajudar numa melhora significativa dos
sintomas, fazendo com que estes já não prejudiquem tanto a qualidade de vida
da criança e os tornem independentes, necessitando cada vez menos de auxílio
e suporte para o seu dia a dia.
Toda criança com autismo têm dificuldades escolares
Mito. A criança com autismo pode apresentar sim dificuldades escolares.
Entretanto, existem alguns autistas que possuem o que chamamos de altas
habilidades. Estes geralmente não apresentam prejuízos pedagógicos, porém
precisam de um olhar atento às possíveis adaptações que precisam ser
realizadas no contexto escolar por conta das altas habilidades.
A criança com autismo não gosta de brincar
Mito. A criança com autismo gosta de brincar, entretanto, muitas vezes
apresenta dificuldade em dar a função adequada ao brinquedo.
Por isso, na grande maioria dos casos, crianças com autismo necessitam de auxílio para que a brincadeira se torne compartilhada, divertida e funcional.
Com as terapias a criança começa a idealizar, planejar e executar o brincar de forma funcional, aprendendo a brincar e a usar os brinquedos.
A criança com autismo rejeita frequentemente alimentos
Verdade. Porém não significa que toda criança com autismo tem ou terá
seletividade alimentar. Vale lembrar que por terem disfunções sensoriais as
crianças com autismo podem apresentar dificuldades ao toque, inclusive na
região oral, levando então a rejeição de alguns alimentos. Por isso a
importância da avaliação especializada tanto da terapia ocupacional quanto da
fonoaudiologia, que poderá intervir e assim, reduzir os sintomas para melhor
aceitação dos alimentos.
Toda criança com autismo tem dificuldade de interação social
Verdade. Entretanto existem diferentes graus de dificuldade de interação.
Algumas crianças preferem se isolar. Já outras interagem, porém essa
interação não tem uma grande qualidade. Por exemplo: a criança não se afasta
de outra criança, mas também não inclui ela na brincadeira de forma
espontânea, necessitando de um auxílio para isso.
Na grande maioria das vezes a criança com autismo têm dificuldade em se relacionar com o outro, não significa que não irá atingir a participação, mas existe uma barreira para
que consiga iniciar a participação, seja pelos comportamentos inadequados, pelas dificuldades e limitações na área do brincar e até mesmo pela disfunções sensoriais que os afastam do meio em que as crianças compartilham o brincar.
A criança com autismo pode fazer pouco contato visual
Verdade. É muito comum ver uma criança com autismo desviando o olhar
quando esse contato visual é solicitado, como por exemplo, você tenta brincar
com seu filho e sente que ele não te olha ou não te dá atenção adequada.
A qualidade do contato visual pode ficar prejudicada por conta da dificuldade de
socialização, comunicação e de processamento dos estímulos visuais, sendo
essa uma das características principais que podem ser observadas nos
primeiros meses de vida.
Com as terapias a criança começa a iniciar o contato visual, faz a triangulação de olhar quando solicita algo e essa interação começa a ser estabelecida. O contato visual é um dos primeiros meios para se estabelecer uma comunicação.
A criança com autismo tem movimentos repetitivos
Verdade. É muito comum a criança com autismo apresentar movimentos como
o de balançar as mãos e de se balançar para frente e para trás. Porém, muitos
não apresentam necessariamente essa estereotipia clássica.
Há também a possibilidade da criança autista apresentar tique/mania desencadeada pela ansiedade ou necessidade de regulação sensorial.
Toda criança com autismo não fala
Mito. Muitas crianças com autismo podem falar normalmente, mas com
alterações no ritmo da fala, tom de voz ou entonação nas palavras, bem como
apresentar repetição de palavras ou frases que ouve (ecolalia). Algumas
crianças podem ser não-verbais, porém podem encontrar outra forma de se
expressarem com ajuda da comunicação alternativa, por exemplo. Não falar
não significa que a criança não será capaz de se comunicar.
Toda criança com autismo anda na ponta do pé e/ou se incomoda com barulhos altos
Mito. As crianças com autismo fazem isso por uma questão de disfunção
sensorial, buscando a ponta do pé para se organizarem. Porém, nem todas
apresentam as mesmas características, pois cada uma tem um perfil sensorial
específico.
Enquanto algumas crianças não apresentam reação ao serem chamadas, outras podem se incomodar bastante com barulhos de fogos, latidos de cachorro, por exemplo. É importante passar por uma avaliação de terapeuta ocupacional para avaliar seu perfil sensorial e identificar as áreas de disfunção sensorial para auxiliar no processo de desenvolvimento da criança.
Bem, essas são as perguntas e dúvidas que eu mais recebo no Instagram e
durante as avaliações que acolho no consultório. O mundo do autismo é novo e
está cada vez mais presente na nossa sociedade. É muito importante termos informação de qualidade e buscar ajuda para nos auxiliar nesse processo tão importante que é receber um diagnóstico e saber por onde começar a ajudar nossos filhos.
Ficou alguma dúvida? Mandem pra gente os mitos e verdades que a gente pode
desvendar mais e mais.
Beijos pessoal!!
* Sofia Régis é terapeuta ocupacional formada pela UFRJ,Especializada no Conceito Neuroevolutivo - Bobath infantil,com Certificação Internacional em Integração Sensorial de Ayres eAprimoramento em Neurodesenvolvimento Infantil.
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